domingo, 15 de dezembro de 2013

Eu e ele


Eu não queria pensar nisso, mas já virou um hábito e não consigo reverter. Por vezes, escrevo e apronto as palavras em frases de efeito para você. Não sei o porquê disso, você não me ouviu, não vai me ouvir. Depois que ela chegou mudou tudo que nós fomos. De quem foi a culpa? Oras, de que importa isso agora, você já se apartou de mim mesmo. Já foi, já passou, já acabou comigo. O que importa por na mesa as cartas sujas do mal que você me fez? A decepção que me causou, a falta de proteção, o descuido, o descaso. Por causa dela. Larga tudo que um dia já foi precioso para você...será que eu fui? Não, não digo essas coisas para ofender, só grito o que estou cansada de repetir na minha cabeça. Quem você foi, quem você é? Quem eram os seus amigos, quem são os de agora? Não te conheço, não sei seus gostos, não quero estar próxima de você, tudo em você me faz mal...me atinge, me contagia de uma cólera mista com tristeza. De uma dúvida. De uma raiva. De não poder ter tido as coisas como sonhei. Você me deixou de lado, me ligou espaçado e simplesmente sumiu dizendo que a culpa era minha. Não importa a culpa, já passou. Agora você deve estar ficando velho, pensando em como suportará os cabelos brancos, não sei. Não sei mais nada de você. Não sei mais nada. A minha falta de força junto com a sua submissão, um prato cheio para a tristeza em todos os sentidos. Mágoa? Sua? Como posso ter, agora que nada do que vem de você me importa tanto. Sem surpresas. Sem mistério. Só a certeza de que nada valho na sua vida. Será? Quem sabe velho você entenda tudo o que aconteceu, quem sabe velha eu entenda o porquê desse caminho. Mas agora? Agora não entendo, não quero. Você lá e eu aqui. Essa é a regra. Me faz passar menos mal. Aqueles que são comuns nossos? Quase não os vejo, evito os lugares onde você está. Sempre saio com um peso maior do que quando entrei. Não quero mais isso, o peso meu já enverga os ombros. Se um dia isso vai mudar? Sinceramente, não. Quem sabe o leito de morte nos faça enxergar. E tudo isso é porque o amo, mesmo sem conhecer mais. Sou uma fraca que sempre [re]corre ao seu olhar. Que sempre quis o seu braço, o seu apoio, ser alguém na sua vida. As lágrimas já me cansaram, não sinto vontade de chorar. Só de que fosse tudo diferente. E o que sobra no final? Eu. E o vazio do quarto escuro de dormir. Sobram meus olhos para fora da janela. Sobra meu corpo caindo os andares rapidamente, que vento bom enchendo os meus pulmões de medo. Só sobra meu sangue quente no carro amassado. Só sobra o que eu sempre quis: família. Obrigada por não me proporcionar isso, pai.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Ela sempre quis?



Ela estava em casa sem o marido. Seu primeiro dia de férias, 30 dias de descanso. Dessa vez não tiraram juntos, ele com muito trabalho e ela sem paciência de esperar. Ah, mas quando se passa tanto tempo junto um do outro isso nem faz mais diferença. Viajamos ano que vem, dessa vez fico em casa. Ahhh, ficar em casa. Há tanto não fico em casa. Quando se tem mais gente em casa é difícil ficar só. Ai, que silêncio gostoso. O celular toca, assusta ela. Oi? Oi amor! Aham...tá faço sim! O que? Deixou aqui? Não, não vi. Tá ponho pra carregar sim. Tá bom. Até mais tarde! Beijo. Que milagre, esquecer esse bendito computador! Carrega com tanta força. Parece que sempre está escondendo alguma coisa...[será que está?] Ela nunca tinha parado pra pensar nessa possibilidade. Traição. Não parecia muito com o jeito dele, tão calmo, preocupado...mas, será que...não sei. Será? Por alguns momentos ela pensou e (re)pensou na ideia. Por que pensar nisso? Se lembrou de mãe falando: minha filha para saber se um homem está te traindo é só perceber se ele lhe falta na cama. A equação é simples. Homem a gente trata assim: barriga cheia, saco vazio. E soltava um grande gargalhada de quem já viveu muito a vida, de quem já viu muito. Não, ele nunca lhe faltara na cama, por isso mesmo nunca imaginou traições. É certo que o sexo não era o mais emocionante, não o que sonhara, mas, também, não era ruim. Cumpria a sua cota, nem mais nem menos. Ás vezes prazeroso, outros dias obrigatório. Resolveu por fim desativar esses pensamentos, quando lembrou do computador. Logo ali, esquecido, pedindo um toque, um clique, podendo responder parte das dúvidas. Se existisse alguma coisa, com toda a certeza estava lá. Ele vive mais com aquela tela do que com os amigos. Mesmo sozinha em casa, se aproximou olhando para os lados, certificando-se de que nada além dela poderia ver o que estava sendo feito. Era uma culpa boa de sentir, uma respiração mais forte, um misto de medo e gostar. Mexendo no computador. Todo aberto, com todas as senhas, para o incrível deleite dela. Começou pelo mais simples, e-mail. Leu vários, procurou recorrências, e quando estava se cansando daquela bobagem...viu um e-mail bastante convidativo. Abriu, leu, a respiração pareceu lhe faltar. Filho da puta! Desgraçado! Mentiu bem direitinho para mim. Ela por alguns instantes parou o olhar na tela e na sua mente vieram todas as cenas das vezes em que ela foi enganada. Não dá, vou atrasar, hoje não, chego mais tarde, vou me encontrar com fulano. Filho da puta! Esse era o sentimento dela, tinha esse nome, essa cara...filho da puta do caralho! É mãe, você errou e riu de lado. Mas por que diabos fui procurar isso? O que os olhos não veem o coração não sente, não é mesmo? Desgraçado! Se eu soubesse dessa vida dupla, longe do bom moço paspalho de casa, já tinha proposto a mais tempos o ménage que sempre quis fazer. Sempre tive vontade de ser tomada por dois, por mais, de uma vez...[suspiro de imaginar]. Ele com o jeitinho recatado e puro nunca me deixa fazer como quero, como gosto. Ah, quantas noites queria diferente, pedi diferente e ele nada...isso não, me parece tão errado, mulher de casa não gosta disso. Que mal tem? Não acredito que pra ela ele diz todas essas safadezas e pra mim? Pra mim é aquele papai mamãe mudo. Quanto tempo desperdiçado. Por horas os pensamentos rolaram na mente dela, cenas de transas maravilhosas, gozos profundos, incríveis, cordas, tapas, mordaça. Usou tanto a imaginação sozinha, brincando com ela mesma. Nunca teve o que queria com ele. Quanto tempo perdido. Quando reparou no relógio já estava na hora dele estar em casa, e antes de pensar a chave fez barulho na porta. Ai, e agora? Volte a si, está na hora. O que fazer? Saiu das janelas, abas, fechou o computador. Oi amor!? Oi querido, como foi no trabalho? Tudo bem, sabe como é a auditoria está me matando. Sei sim, nossa nem vi a hora passar, esqueci completamente de tudo...vou fazer uma comida pra gente. Ah que nada, pede um pizza! Hoje quero a preguiça da noite. Certo. Enquanto ela ia até a geladeira pegar o folheto para telefonar, um sorriso discreto lhe acometeu. Não direi o que fiz, não quero que encontrem as minhas sinceras mentiras, afinal o que os olhos não vem o coração não sente...O que você meu bem? Marguerita?! 

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Libros


Não, hoje eu não quero andar rápido. Cansei deste negócio de horário, pelo menos por hoje. Quero só caminhar em paz, quero sentir as coisas passando por mim, quero reparar. Sim, é claro que o sapato apertado me ajuda a tomar a decisão, afinal é impossível manter o passo largo com os dedos sufocados. Quem sabe não foi um decisão do destino me botar cheia de dores e fazer com que eu levante a cabeça para o mundo. Nossa, olha só o mundo! Como tem gente aqui! As paradas lotadas todos querem voltar para casa, eu também quero. Passo de-va-ga-ri-nho...sinto o vento se movendo enquanto as pessoas passam por mim. Pessoas vendendo coisas no chão, todo mundo arranja um jeito de ganhar a vida. Desço, desço, desço, na descida reparo em uma livraria. Será que ela sempre existiu ali? Passo aqui a tantos dias e nunca reparei. Hoje mesmo passei por aqui para ir ao trabalho. É como que se tivesse sido plantada assim, logo depois que passei pela manhã, uma muda de árvore grande. Uma muda de livraria. Não consigo me conter quando vejo livros, gosto da vitrine, do cheiro...ah, como pode existir gente no mundo que não os queira? Como um imã vou em direção a muda plantada logo cedo. Abro as narinas, adoro aquele misto de página, capa e carpete cinza. Deveria ter um perfume com esse cheiro. Respiro de olhos fechados um tempo, oxigênio, carbônico, oxigênio, carbônico, oxigênio...Aí, que delícia! As vezes acho que me alegro com muito pouco, acho bom não é difícil me ver sorrir...acho ruim, porque as pessoas me olham estranho na rua quando rio sozinha. Pensando bem, acho que acho mais bom do que ruim. É...acho que é bom. Bom. Do que eu estava mesmo falando? É assim mesmo, minha memória costuma não ser minha. Deve ter alguma alavanca nela que vive frouxa. Ao invés de se manter em pé, ligada, sempre cai e desconecta o sistema. Deve ser por isso que sempre me pego distraída nas coisas, o que era mesmo? Minha atenção se perde fácil em ver alguma coisa qualquer na rua, dano a rir de nada. Mas acho que isso é bom. Meu riso é fácil, gosta de aparecer. Logo eu, menina de dentes tortos querendo os mostrar. Não se pode, hoje todos tentam consertar usam aparelhos, ou se tem dentes certos, ou se tem aparelho. Acho que os dentes gostam de se mostrar, não por minha vontade, vontade própria deles de querer assustar as pessoas de dentes certos. Agora rio da frase. Riso fácil o meu, mas eu acho bom. Lembrei, estávamos na livraria-muda não é? Voltemos para lá. Enquanto respirava de olhos fechados lembrei de rostos, de gente, de coisas, de bichos. Por um momento tinha nove anos de novo, em cima da árvore, perto do casebre de meu avô. Abri os olhos, não estava com ele morrerá a poucos meses. Espera, poucos? Fiz a conta com os dedos já se iam quase um ano. Um ano! Nossa! Deixei de lado as lembranças e percorri as estações do livros, cada parada um destino diferente. Peguei o trem e andei por tudo. Tudinho. Olhando demorado para cada estação. Na parada seguinte me deti e desci, livros sobre as línguas, dicionários, formas. Sempre foi o meu gosto essas coisas de palavras serem as mesmas...mesmo sendo diferentes. Vi de tudo até um dicionário de Tupi, as palavras eram difíceis de entender, tentava falá-las mentalmente, ria da minha dificuldade, sou pessoa de riso fácil. E, no meu Tupi engraçado, reparei em um vendedor que me olhava. Esqueci que não estava só, quantos outros olharam meu riso sem eu ver? Não sei. De susto escondi os dentes, olhei o livro, mas fiquei reparando com minha visão periférica se o rapaz me olhava. Acho que me olhava. Esqueci disso, eu também olho as pessoas na rua ainda mais se elas estão rindo de livro quero saber o nome para lê-lo e rir também. Peguei em outros livros, outros dicionários, alemão, inglês, japonês, grego...achava graça, achava interesse, ria, lia. O rapaz me olhava com a cabeça escorada na mão e os cotovelos escorados no balcão. Acho que ele não vê muita gente nessa estação. Fui reparar e só tinha eu, é só eu mesma. Talvez devesse estar feliz de ver gente, quem sabe com a esperança da compra, ou me achando bonita...bonita? Acho que não! Faz tanto tempo que não me acham bonita. Nem sei mais se era bonita. Será que era? Não sei. Me detive mais um tempo em pensar em outras coisas olhando para a página do livro. Não sei quanto tempo deu, fiquei com pensamentos profundos, sobre mim, sobre o mundo, sobre a sociedade judaico-cristã ocidental...ri sozinha, rio fácil das coisas. Percebi que o rapaz que me olhava riu, riu de mim e quando olhei ele rindo de mim, ri, ri dele rindo de mim. Rapaz bonito, não havia reparado. Esse pensamento súbito deve ter me deixado vermelha. Paramos de rir olhando um para o outro. Respirei forte, cheiro de livraria é tão bom. O livro pesou nas minhas mãos, lembrei de colocá-lo no lugar. Olhei o rapaz, meu cabelo preso se soltou um pouco como se alguém tivesse mexido, cobria um pouco meu rosto, meus olhos, vi o rapaz entre os fios. Era realmente bonito. Ri de novo e ele retribuiu. Fiz um tchau com a mão direita e ele fez o mesmo. Virei e fui para o metrô. A imagem do rapaz sorrindo na cabeça, bonito, rosto na mão, me olhando, olhando ele...Sinto que amanhã terei vontade de ver livros. Não, sinto que amanhã terei vontade de ver um livro, de capa escura, morena, alto, magro, sorriso bonito, olhos pretos. Quem sabe eu descubro que a história dele tem um fim...bom. 

domingo, 30 de junho de 2013

É ela.


Ah tristeza, velha amiga e infeliz companheira. Sentimentos como tantos outros, malvisto e malquisto de todos. A tristeza é mesmo um sentimentozinho matreiro que tece sua linha aos poucos, com cuidado, sem descuido. Espera por nós a cada pensamento de alívio e paz. Quer-nos no chão junto dela, sentados em um beco e com uma garrafa de cerveja quente. Tristeza, maldição dos homens na Terra. Ela espera, escuta, interpreta e pega a todos no pulo do gato, na quebrada da rua. Faz arruaça em nós, tira do controle as lágrimas, o sorriso, a força. Fica ali por tempos, escondida em um cabelo, atrás da orelha, debaixo do pé...fica como uma pedra na consciência te lembrando a todo instante, eu te avisei! É como uma praga de mãe que parece não tem fim, não tem escapatória. É ela que te acorda e ela mesma te põe para dormir. Fica impregnada no café, na cama, no computador, do trabalho a casa. Em tudo ela sorri de lado com ousadia enquanto você, mero mortal, assiste ao martírio do coração aprisionado. Culpa dela! Imagem insistente que fica, que fica, que fica, que fica...

terça-feira, 18 de junho de 2013

0,20


Eu nunca passei por uma ou duas guerras, não vivi na ditadura, não participei de revoluções. Mas passo por torturas diárias: quando tenho que voltar para casa e vejo que não tem ônibus suficiente, apesar da passagem ser uma fortuna; quando tenho que ir amassada entre tantos outros, que como eu, estão exaustos e só querem a paz do seu lar; quando tenho medo de ficar doente, pois se isso acontecer terei que me apegar a algum santo porque a saúde pública é um caos; quando tenho medo de andar na rua e ser estuprada por um sujeito qualquer; quando tenho pavor de sair de casa por achar que algo pode me acontecer porque segurança é uma palavra que só está nos dicionários; quando tenho medo de bandido e tenho medo da polícia; quando tento protestar e mostrar minha insatisfação, mas sou brutalmente repreendida pela força, pelo desumano. Não é somente por 20 centavos, é pelo o direito de VIVER de cada um! É por parar de sobreviver, de aguentar, de silenciar! É por você, é por mim, é por nós! Os protestos, esses sim, me representam! #VAMOSprarua
Mayara Sampaio do Brasil

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Beleza

Por que a minha beleza tem que ser magra? Cinturinha fina, salto alto, maquiagem? Por que minha beleza tem que ser lisa? Sem cachos, ondulações, assimetrias? Por que a minha beleza tem que ser bem educada? Sem nunca se meter, sem nunca se estressar? Porque a minha beleza tem que ser coxa grossa, bunda grande, peito duro? Por que minha beleza não pode balançar e acordar mau-humorada? Por que a minha beleza deve caber em uma balança sem mexer, em ponteiros assustadores, em medidas impossíveis? Por que a minha beleza deve se contentar em ser a mesma beleza de tantas outras? Por que a minha beleza não pode estar no ser, no eu-ser? Quem determina qual é a maior beleza? A mais bonita, mais agradável aos olhos? Olhos de quem? Se os únicos olhos que me importam são o do meu amor. E os dele sempre ficam faceiros quando encontram as minhas curvas, os meus perigos. Não entendo, por que minha beleza tem que ser a mesma? Mesminha? Mesmíssima? Igual? Prefiro a minha beleza, assim. Sem regras. Só o meu gosto. Sem finura. Só com meu chiclete mastigado de boca aberta. Sem educação. Só com meus xingamentos ralos para os motoristas que fecham o carro. Sem número. Só com a minha calça 46 e um quadril que faz estragos. Sem medos. Só com a certeza de que a minha beleza é só minha.

sábado, 9 de março de 2013

E como é?

Sim, tudo que escrevo é verdade (ou seria essa mais uma mentira?). Toda a história, qualquer, a partir do momento que se transforma em escrita é verdade. Ali, naquela página, naqueles curtos caracteres de expressão aparecem as verdades mais mentirosas. Na verdade o que é mentira? Escrevo simplesmente. Se as idéias brotam do que me aconteceu, o que importa? Se a motivação vem de uma situação real, o que é real? Te digo. Real, real mesmo, verdade, verdade séria é o que cada personagem vive naquele suspiro de vida de cada conto. Essa história de que a idéia surge unicamente de algo que me acontece, de que o nome desse ou daquele é por causa dessa ou daquela pessoa...tudo baléla! A idéia nasce, também não me venha de inspiração divina porque seria muito bom se assim fosse...mas voltando, a idéia nasce de uma pensamento. Claro que outros fatos podem influenciar, mas a primeira visão inconsciente vem do consciente. A idéia cresce junto com as ramificações dos neurônios, é um martelar constante. A idéia aumenta, nos domina, diz anda escreva alguma coisa! É assim que nasce a história. É preciso muita massa cinzenta para se modelar bem as f(ô)rmas no papel. A luta é de corpo, de mente. Como? Quer saber se o que eu digo não é uma grande mentira? (risos pesados e cansados do velho que sou). Essa história já foi para o papel, já é verdade.

Central de Reclamações de Deus

Tu...tu...tu...tu... CRD, Central de Reclamações de Deus. Arcanjo Rafael, bom dia! Rafael, estou precisando fazer umas mudanças na minha vida. É com você que eu falo? Sim, senhor. Para iniciarmos o atendimento o senhor pode confirmar alguns dados, por favor? Claro. Nome completo. José de Souza Martins. Data de nascimento? 01/08/1976 Cor favorita? Ah...er...azul claro. Leva a foto da esposa na carteira? Sim levo. Obrigada pelas confirmações senhor José no que posso ajudar? Então, Rafael...é Rafael né? Sim senhor. Então, eu estou passando por umas coisas muito ruins na minha vida sabe. Estou querendo mudar e quero saber o que você pode fazer. Certo, o senhor quer fazer alterações na vida. Correto? Correto. Certo. A política de Deus deixa clara que para fazer qualquer tipo de alteração é necessário que o senhor escute todas as consequências para, a partir daí, aprovar as alterações. O senhor compreendeu? Sim! Então qual é a situação que o senhor deseja estar mudando? Ah, a primeira delas é que minha mãe está no hospital. Ela tem sentido uma dor, mas os médicos não encontraram nada. Aí ficam mantendo ela lá para observação e tudo o mais. Ela tem sofrido muito de ficar lá sabe...não quero isso para ela não. Tem como tirar ela de lá? Só um instante vou verificar no sistema. Então o senhor pode estar fazendo a mudança, mas, de acordo com o sistema, hoje pela madrugada ela vai passar bastante mal e estando no hospital será socorrida a tempo de os médicos descobrirem que ela está com um câncer no fígado em estágio inicial e a partir daí poderão tratar. Fazendo a alteração ela vai passar mal, irá ao hospital, não acharão nada, ela será medicada e não haverá muita importância no caso, sendo assim o câncer só será descoberto posteriormente em estágio 3. O senhor deseja fazer a mudança? Ahn...melhor não. Esse deixa como está mesmo. Ah, mas você pode me ajudar em outra coisa. Sabe o que é? Minha mulher fala demais , quer conversar sempre, eu não tenho paciência. Você podia fazer com que ela ficasse quieta? Sim senhor, só um instante. Eu posso fazer a alteração sim, mas como consequência sua esposa vai se sentir cada vez mais infeliz no casamento por não poder compartilhar a vida com você, as coisas que ela pensa. Daqui a 6 meses ela irá encontrar com uma amigo de escola e ela vai adorar conversar com ele, sair com ele, fazer tudo com ele. Por fim, ela vai se divorciar do senhor pela falta de comunicação e casar com ele. O senhor aceita a mudança? Claro que não! Deixa então ela do jeito que ela é...vou até ouvir agora! Mas, então, veja o que você pode fazer com mais uma coisinha. Eu queria que acelerassem a minha promoção lá na empresa sabe? Tem como dar a ideia para o meu chefe? Sim senhor. E como consequência o senhor se sentirá mais confortável e seguro no emprego e recusar uma proposta de outra empresa. Caso o senhor mantenha o seu cargo atual, estará muito insatisfeito e vai aceitar a proposta e com o seu crescimento se tornará diretor presidente. O senhor aceita a alteração? ... Senhor? ... Senhor? Ah, desculpe Rafael. Estava aqui pensando. Quer saber deixa as coisas como Deus já fez tá? Sim. Posso ajudar o senhor em mais alguma coisa? Não, Rafael. Obrigada! O CRD agradece a ligação e tenha um dia abençoado. E José volta pra casa pensando em consequências e requerimentos. Lembrando das palavras da mãe quando menino “Deus escreve certo em linhas tortas”.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Celebrar

Sentadas na mesa de um café. Elas conversam suas alegrias e desventuras. Nada fora do comum, tudo normal. Só duas amigas, como tantas outras amigas, conversando. Não sei se você sabe, mas a conversa de duas amigas podem se firmar em assuntos dos mais diversos. Sim. Não pense você que mulheres falam somente de bolsas e sapatos. Elas falam de bolsas e sapatos também. Por favor, dois capuccinos, uma torta de frango. Aham, com catupiry. E você vai comer? Ai...não sei. Quero uma ciabata com peito de peru light e ricota. Cruzes! Tem certeza que você quer isso?! Definitivamente não, mas tenho que entrar no vestido de casamento daqui a uma semana. Certo, certo! Me traz uma água com gás também? Obrigada! Mulheres e suas manias de dietas. Em dias de tristeza, ou solidão o silêncio é o melhor amigo, mas e quando se trata de alegria? É sempre melhor ver gente, conversar com gente, tocar gente, dançar com gente, ser gente. E ela estava alegre, crente que o mundo seria outro com a mudança do status. Ai (suspiro)! Era essa a palavra que mais falava, desde que ele a pediu em casamento. Era tão difícil acreditar. Ela e ele, ele e ela. Tão jovens, tão novos, mas por quê? Era o que todos diziam. Ela tinha dúvidas...sempre ouvira dos outros que o casamento é o fim, um atraso de vida, um momento de epifania alegre que não durava mais que um dia. Lembra de criança, na roda de amigas da sua mãe, as reclamações constantes. Meu marido isso, meu casamento aqui, minha vida mudou, minha vida piorou. Era exatamente essa imagem que tinha do matrimônio. Quando, na adolescência feminista, a perguntavam sobre o assunto ela impositiva discorria a respeito da opressão da mulher, da falta de independência, da desigualdade, do nunca! Só que ela não contava que seria, ela, logo ela, acometida pelo pior mal que uma mulher pode sofrer...paixão, amor. Hoje pensa em tudo o que já passou, olhando fixamente para o seu capuccino. Ai (suspiro)!! Mas o que foi?! Pra que tanto ai? Fique calma, não há com o que se preocupar. Oras, é uma decisão importante, como tantas outras importantes que você já tomou na sua vida. Não, não é o fim do mundo. Sim, pode dar tudo errado...mas, sim, também pode dar tudo certo. Por que jogar com as possibilidades negativas, oras? Por que não olhar o arco-iris? Você sempre foi mais otimista do que eu! Vamos, nada de sofrer pelo o que os outros viveram, ou vivem. Nada de sofrer pelo o que já se sofreu, ok? Eu sei, simplesmente sei, eu sinto, simplesmente sinto...você vai se dar bem nessa! Não existe, no mundo inteiro...não, no universo inteiro quem te faça melhor do que ele. Eu sei que é Claro que eu sei te aturo a muitos anos oras. Alias, acho até que você ficou mais fácil de aturar depois que ele entrou na sua vida! (risos altos!) é brincadeira, sua boba!!! Mas, falando sério, não tenha dúvidas. Não há o que temer mujer! (risos profundos das duas amigas). Ela olha no olho dela. Dela olha no olho ela. Obrigada! Você sempre sabe o que falar.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Vem...

Você me chegou quando tudo estava perdido. Veio quando minhas forças já não aguentavam mais, quando até elas estavam fazendo as malas e procurando novo aluguel. Você me chegou quando meu coração já não queria nem saber de bater [pra que coração?]. E incrivelmente nesse instante você veio. Veio para me revolucionar, me dar novo ar, nova possibilidade. Com você pude me tornar outra, me tornar eu mesma, coisa que já não existia a muito tempo. Você chegou com a compreensão do mundo, com um espelho na mão lembrando quem eu era e como gostava de ser. Veio trazendo a revolução de mim, já a tanto tempo guardada. Você chegou e me estendeu a mão, falou das estrelas, das flores, dos gestos, do amor, do espírito. Me fez reacender como pessoa, mulher, menina, devota. Fez brotar a lembrança do que era a esperança e o porquê dela existir. Felizmente você veio, para me tirar do amargor da vida de neurose, desconfiança, angústia e solidão. Com você contruí [e construo] em cada instante a minha razão de existir, de viver. Quero que seu abraço nunca me falte, que seu beijo sempre me molhe, que seus braços me envolvam, que sua mão me aperte, que o seu corpo me comprima...que os corações e pensamentos estejam sempre sintonizados na mesma frequência. Minha vida!

"Na bruma leve das paixões Que vem de dentro Tu vem chegando Pra brincar no meu quintal No teu cavalo, peito nu Cabelo ao vento E o Sol quarando Nossas roupas no varal. Tu vens, Tu vens Eu ja escuto os teus sinais A voz do anjo Sussurou no meu ouvido Eu não duvido Já escuto os teus sinais Que tu virias Numa manhã de domingo Eu te anuncio Nos sinos das catedrais... Tu vens, Tu vens Eu ja escuto os teus sinais" (Alceu Valença)

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Reacenda



Eu imagino como você deve estar se sentindo. Não é fácil perder as pessoas que gostamos, não é fácil compreender porque elas têm de ir embora. Dói, aperta, maltrata. Ainda mais quando as pessoas são tão novas e jovens como a gente. Não é fácil. Parece que a ordem natural das coisas não está certa e não tem ninguém olhando para dizer “ei, pode parar! Volta que está tudo errado”. Não tem ninguém. A gente se encontra em um vazio, uma queda interminável [por que não termina? ]. É estranho. Não ver mais, não sentir o cheiro, não xingar, nem...nem...nem nada. Simplesmente nada. Sei que agora você se sente indefeso e pensando que a morte é para todos, pensa na sua, na das pessoas próximas, pensa que talvez você nunca realize o que está sonhando, planejando. Pensa na minha morte, talvez. Em tudo que não foi construído. É assim, sempre vai ser. Mas, apesar do desânimo, minha força vital, minha visão umbandista não consegue compartilhar dessa visão pessimista de morte. Não dou força para ela, eu só acredito e professo a vida. Pra mim talvez seja mais fácil, entendo que minha fé é quase um ser que anda comigo. Eu confio, eu sei, eu sinto. Tento não me abalar. E rezo, como eu rezo, peço que ele possa ter socorro, paz...que saiba se conhecer, entender que a vida levada acelerou o processo e que tudo foi aprendizado (pra quem vai e pra quem fica). Não sei como anda sua fé, se você se afastou ou não, se acredita ou não, se quer ou não. Por isso, o que eu posso fazer é pedir a Zambi e todos os orixás, as forças da natureza, que te deem conforto, compreensão, paciência e discernimento. Que você não esqueça quem é, o que quer...não esqueça que temos muitas lições para passar e que largar a vida de mão é burrice e ingratidão. Que negar tudo o que você viu, sentiu, é negar a você mesmo. Que as sete flechas orientem o seu caminho para a direção certa e, principalmente, que você saiba seguir as orientações que apontam o seu caminho. Tenha fé, seja bom e não tenha vergonha de pedir ajuda a eles, porque eles [melhor do que ninguém] sabem o que se passa no seu íntimo, sabem o que você precisa, o que você pode aguentar. Põe esse sorriso bonito no rosto e segue o caminho. Abraço de olhos fechados pra você.