domingo, 15 de dezembro de 2013

Eu e ele


Eu não queria pensar nisso, mas já virou um hábito e não consigo reverter. Por vezes, escrevo e apronto as palavras em frases de efeito para você. Não sei o porquê disso, você não me ouviu, não vai me ouvir. Depois que ela chegou mudou tudo que nós fomos. De quem foi a culpa? Oras, de que importa isso agora, você já se apartou de mim mesmo. Já foi, já passou, já acabou comigo. O que importa por na mesa as cartas sujas do mal que você me fez? A decepção que me causou, a falta de proteção, o descuido, o descaso. Por causa dela. Larga tudo que um dia já foi precioso para você...será que eu fui? Não, não digo essas coisas para ofender, só grito o que estou cansada de repetir na minha cabeça. Quem você foi, quem você é? Quem eram os seus amigos, quem são os de agora? Não te conheço, não sei seus gostos, não quero estar próxima de você, tudo em você me faz mal...me atinge, me contagia de uma cólera mista com tristeza. De uma dúvida. De uma raiva. De não poder ter tido as coisas como sonhei. Você me deixou de lado, me ligou espaçado e simplesmente sumiu dizendo que a culpa era minha. Não importa a culpa, já passou. Agora você deve estar ficando velho, pensando em como suportará os cabelos brancos, não sei. Não sei mais nada de você. Não sei mais nada. A minha falta de força junto com a sua submissão, um prato cheio para a tristeza em todos os sentidos. Mágoa? Sua? Como posso ter, agora que nada do que vem de você me importa tanto. Sem surpresas. Sem mistério. Só a certeza de que nada valho na sua vida. Será? Quem sabe velho você entenda tudo o que aconteceu, quem sabe velha eu entenda o porquê desse caminho. Mas agora? Agora não entendo, não quero. Você lá e eu aqui. Essa é a regra. Me faz passar menos mal. Aqueles que são comuns nossos? Quase não os vejo, evito os lugares onde você está. Sempre saio com um peso maior do que quando entrei. Não quero mais isso, o peso meu já enverga os ombros. Se um dia isso vai mudar? Sinceramente, não. Quem sabe o leito de morte nos faça enxergar. E tudo isso é porque o amo, mesmo sem conhecer mais. Sou uma fraca que sempre [re]corre ao seu olhar. Que sempre quis o seu braço, o seu apoio, ser alguém na sua vida. As lágrimas já me cansaram, não sinto vontade de chorar. Só de que fosse tudo diferente. E o que sobra no final? Eu. E o vazio do quarto escuro de dormir. Sobram meus olhos para fora da janela. Sobra meu corpo caindo os andares rapidamente, que vento bom enchendo os meus pulmões de medo. Só sobra meu sangue quente no carro amassado. Só sobra o que eu sempre quis: família. Obrigada por não me proporcionar isso, pai.