sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Luto


Eu luto. Luto a séculos, a milênios, a dinastias para me colocar inteiro dentro desse lugar que se reconhece como humano. Eu luto. Já lutei contra aqueles que deveriam estar do mesmo lado que eu. Eu luto. Lutei e luto contra todo tipo de correndo, amarra, chicote, açoite, dor, violência e exclusão. Eu luto. Luto com o mesmo vigor de séculos, pois desde então eles me reconhecem, mas não me conhecem, não sabem a minha dor, não sabem o que eu sinto e nem querem saber. Eu luto. Ainda luto por um regime melhor, igual, único, pois estou ainda no mesmo regime em que comecei a lutar, mudaram-se as roupas, mas o olhar é o mesmo. Eu luto. Eu luto e vou seguir lutando, mostrando, alcançando, caindo, me ferindo e me nascendo. Eu luto. E continuo a minha caminhada de luta, lutando bravamente, às vezes sozinho, às vezes com multidões, às vezes contra mim mesmo. Eu luto. Luto por aquele "mas", "só podia", "não precisa de cota", "não existe preconceito", "não namore a minha filha", "pega o elevador de serviço", "que cabelo é esse", "a vida é assim mesmo", " quem você pensa que é", "isso é religião?", "como ele conseguiu", "corzinha". Eu luto. Luto, falo, grito e espero alcançar, a minha paciência se faz maior do que qualquer virtude, ela permeia séculos. Meu acreditar se fez maior, veio comigo escondido, quieto, mas nunca esquecido. Minha esperança, se visível, preencheria todo o espaço do vazio de você. A minha voz, ainda vai ecoar nos ouvidos surtos até que eles se destampem. Negro é minha cor, e essa é mais uma parte de mim.  

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