quarta-feira, 15 de junho de 2016

Perdões


Perdoe-me o canto frágil amada musa que pernoita na torre, mas é que aqui embaixo faz muito frio e os queixos batem sem aviso ou controle.

Perdoe-me o rangido miúdo da flauta amada musa que pernoita na torre, mas aqui embaixo só há fome e os e os meus músculos não respondem íntegros aos comandos do corpo.

Perdoe-me a vestimenta parca amada musa que pernoita na torre, mas aqui embaixo não chegam os finos tecidos que te agradam só há miséria  e farrapos para não ostentar a nudez.

Perdoe-me a poesia fraca amada musa que pernoita na torre, mas aqui embaixo não se tem doutores para lecionar palavras, só os rudes trabalhadores que não cessam a mão até o apito mandar.

Perdoe-me a insensatez amada musa que pernoita na torre, de pensar que talvez você pudesse ouvir o sofrimento que há aqui e transformá-lo, fazendo ele mudar até não haver mais torre, nem embaixo.