Menina, você viu? Coitado! O
rapaz é tão moço para ser doido assim. Não acreditei quando me contaram, tive
que ver eu mesma pra acreditar. Sabe igual São Tomé? Fui conferir e é verdade.
Não entendo como aconteceu! Essas coisas não deviam acontecer a gente nova.
Não, nem a gente velha! Mas vá lá! Com gente nova é bem pior, não se espera,
mas, com gente velha, já está no roteiro de Deus. Nem assusta. Mas então, o
rapaz trabalha lá no setor. Recém-admitido, chegou a pouco, ninguém o conhecia
direito. Foram se passando os meses e começamos a reparar no jeito esquisito
dele. Aquilo não é normal! Lá se foram 3 meses de trabalho duro, hora extra,
tempo corrido e todo o dia, juro, todo santo dia ele estava sorrindo. Acredita?
Todo santo dia! Até quando precisamos trabalhar no sábado. Aham! E não é só
isso, ele também é educado com qualquer pessoa. Mas vê se eu sou de mentir
menina! Juro! Qualquer uma! Ele cumprimenta o porteiro, a copeira, o ascensorista,
o diretor, os colegas. E sempre sorriso! E tem mais, eu nunca ouvi ele reclamar
da vida! Nunquinha! Juro por Deus! Até quando bateram no carro dele, nem quando
estava com o pé engessado. Uma vez, menina, o cartão dele estava bloqueado por
erro da empresa e ele nem gritou com a atendente. Falava assim como se tivesse ganhado
na loteria, calmo, tranquilo! Coitadinho! Reparando em tudo isso, tentei
conversar, mostrar o caminho certo, de gente civilizada, afinal, onde já se viu
essa alegria sem limite?! Mas ele não entende, só sendo doido. Tentei mostrar
como a vida deve ser vivida, sem esses gracejos e doçuras. Afinal, amargamos a
vida e ela nos amarga! É a lei da natureza, da selva, do ocidente, da
civilização! Fiz um discurso sobre as nossas dores serem maiores do que a dos
outros, como os nossos problemas devem ser superiores que os de outrem, como
ser ingrato, injusto, desonesto, bajulador, fofoqueiro, egoísta. Percorri os
pensadores para mostrar como é ser superior aos outros, como rebaixar os
pequenos e elevar as altas patentes. Como o drama deve ser usado a nosso favor
e o riso contra o outro. Tentei demonstrar a inveja, a galhofa, o bullying, a
esperteza sem fim. E aí? De nada adiantou. Não, ele nem me ouviu. Ficou lá
desmedido, com aquele sorriso que quem é educado demais para interromper a
fala. E por fim, ele continua vivendo a moda da própria loucura. E, claro, todas
as pessoas normais tem inveja do seu sorriso e certa raiva pela sua alegria.
Todos querem ser, escondidos, o doido. Menos eu! Claro! Tá me achando com cara
de doida?
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