quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Ela sempre quis?



Ela estava em casa sem o marido. Seu primeiro dia de férias, 30 dias de descanso. Dessa vez não tiraram juntos, ele com muito trabalho e ela sem paciência de esperar. Ah, mas quando se passa tanto tempo junto um do outro isso nem faz mais diferença. Viajamos ano que vem, dessa vez fico em casa. Ahhh, ficar em casa. Há tanto não fico em casa. Quando se tem mais gente em casa é difícil ficar só. Ai, que silêncio gostoso. O celular toca, assusta ela. Oi? Oi amor! Aham...tá faço sim! O que? Deixou aqui? Não, não vi. Tá ponho pra carregar sim. Tá bom. Até mais tarde! Beijo. Que milagre, esquecer esse bendito computador! Carrega com tanta força. Parece que sempre está escondendo alguma coisa...[será que está?] Ela nunca tinha parado pra pensar nessa possibilidade. Traição. Não parecia muito com o jeito dele, tão calmo, preocupado...mas, será que...não sei. Será? Por alguns momentos ela pensou e (re)pensou na ideia. Por que pensar nisso? Se lembrou de mãe falando: minha filha para saber se um homem está te traindo é só perceber se ele lhe falta na cama. A equação é simples. Homem a gente trata assim: barriga cheia, saco vazio. E soltava um grande gargalhada de quem já viveu muito a vida, de quem já viu muito. Não, ele nunca lhe faltara na cama, por isso mesmo nunca imaginou traições. É certo que o sexo não era o mais emocionante, não o que sonhara, mas, também, não era ruim. Cumpria a sua cota, nem mais nem menos. Ás vezes prazeroso, outros dias obrigatório. Resolveu por fim desativar esses pensamentos, quando lembrou do computador. Logo ali, esquecido, pedindo um toque, um clique, podendo responder parte das dúvidas. Se existisse alguma coisa, com toda a certeza estava lá. Ele vive mais com aquela tela do que com os amigos. Mesmo sozinha em casa, se aproximou olhando para os lados, certificando-se de que nada além dela poderia ver o que estava sendo feito. Era uma culpa boa de sentir, uma respiração mais forte, um misto de medo e gostar. Mexendo no computador. Todo aberto, com todas as senhas, para o incrível deleite dela. Começou pelo mais simples, e-mail. Leu vários, procurou recorrências, e quando estava se cansando daquela bobagem...viu um e-mail bastante convidativo. Abriu, leu, a respiração pareceu lhe faltar. Filho da puta! Desgraçado! Mentiu bem direitinho para mim. Ela por alguns instantes parou o olhar na tela e na sua mente vieram todas as cenas das vezes em que ela foi enganada. Não dá, vou atrasar, hoje não, chego mais tarde, vou me encontrar com fulano. Filho da puta! Esse era o sentimento dela, tinha esse nome, essa cara...filho da puta do caralho! É mãe, você errou e riu de lado. Mas por que diabos fui procurar isso? O que os olhos não veem o coração não sente, não é mesmo? Desgraçado! Se eu soubesse dessa vida dupla, longe do bom moço paspalho de casa, já tinha proposto a mais tempos o ménage que sempre quis fazer. Sempre tive vontade de ser tomada por dois, por mais, de uma vez...[suspiro de imaginar]. Ele com o jeitinho recatado e puro nunca me deixa fazer como quero, como gosto. Ah, quantas noites queria diferente, pedi diferente e ele nada...isso não, me parece tão errado, mulher de casa não gosta disso. Que mal tem? Não acredito que pra ela ele diz todas essas safadezas e pra mim? Pra mim é aquele papai mamãe mudo. Quanto tempo desperdiçado. Por horas os pensamentos rolaram na mente dela, cenas de transas maravilhosas, gozos profundos, incríveis, cordas, tapas, mordaça. Usou tanto a imaginação sozinha, brincando com ela mesma. Nunca teve o que queria com ele. Quanto tempo perdido. Quando reparou no relógio já estava na hora dele estar em casa, e antes de pensar a chave fez barulho na porta. Ai, e agora? Volte a si, está na hora. O que fazer? Saiu das janelas, abas, fechou o computador. Oi amor!? Oi querido, como foi no trabalho? Tudo bem, sabe como é a auditoria está me matando. Sei sim, nossa nem vi a hora passar, esqueci completamente de tudo...vou fazer uma comida pra gente. Ah que nada, pede um pizza! Hoje quero a preguiça da noite. Certo. Enquanto ela ia até a geladeira pegar o folheto para telefonar, um sorriso discreto lhe acometeu. Não direi o que fiz, não quero que encontrem as minhas sinceras mentiras, afinal o que os olhos não vem o coração não sente...O que você meu bem? Marguerita?!