quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Seriamos



Se eu fosse encontra-lo certamente seria em um bar. Ele pediria whisky, acenderia um cigarro e teria o cotovelo, do braço do cigarro, apoiado no braço da cadeira enquanto o polegar seguraria a cabeça daquele homem. Com os olhos distantes...tenho certeza que os pensamentos iam longe. Eu pediria uma pink limonade, só porque é bonita, e copiava o olhar de divagação dele. Será que foi com ele que eu aprendi a ser assim? Se fossemos conversar falaríamos de nada, ou de tudo. Contaríamos piada ou qualquer comentário banal da vida. Até sermos só silêncio de novo. Se fossemos música seríamos o cantar sentido de Elis, a língua torta de Adoniran, a dor em versos de Cartola. Nada de Chico Buarque por essas bandas! Só pra me implicar. Se nós fossemos lugar seriamos aquela casa no campo esquecida. Saputiceiro que outrora hasteu a bandeira de brasão Sampaio. Se fossemos jogo seriamos 7 e meio jogado apostado com caroço de feijão, ou a paciência roubada só pra dar certo né? Se fossemos comida era acarajé, vatapá, pimenta, era festa de Cosme e Damião, era desejo de neta atendido no mesmo instante. Se fossemos nome era apelido com direito a implicância e língua de fora, e jeito de fazer rir, e metro, e bico. Se fossemos menos anos seriamos juntos, apesar da tosse, apesar da dor, apesar do oxigênio, apesar. Mas hoje somos distância medida em saudade e fios de água com sal no rosto.

quarta-feira, 15 de junho de 2016

Perdões


Perdoe-me o canto frágil amada musa que pernoita na torre, mas é que aqui embaixo faz muito frio e os queixos batem sem aviso ou controle.

Perdoe-me o rangido miúdo da flauta amada musa que pernoita na torre, mas aqui embaixo só há fome e os e os meus músculos não respondem íntegros aos comandos do corpo.

Perdoe-me a vestimenta parca amada musa que pernoita na torre, mas aqui embaixo não chegam os finos tecidos que te agradam só há miséria  e farrapos para não ostentar a nudez.

Perdoe-me a poesia fraca amada musa que pernoita na torre, mas aqui embaixo não se tem doutores para lecionar palavras, só os rudes trabalhadores que não cessam a mão até o apito mandar.

Perdoe-me a insensatez amada musa que pernoita na torre, de pensar que talvez você pudesse ouvir o sofrimento que há aqui e transformá-lo, fazendo ele mudar até não haver mais torre, nem embaixo.

domingo, 14 de fevereiro de 2016

Um pouco de mim - Concurso literário




Oi! Não, não me olha com essa cara! Eu sei que o blog anda meu de ladinho, tenho me dedicado muito aos textos de beleza e maquiagem do outro blog (Status Diva), mas eu quero muito compartilhar esse momento incrível com você. 

Minha jornada na escrita é recente e veio muito bem inspirada pelo meu avô (velhinho engraçadíssimo, que disputava a tapa a publicação de opiniões no jornal). Nunca tinha pensado em escrever como modo de vida, ou de ganhar alguma coisa com isso, sempre foi minha válvula de escape para o mundo de ideias que fica borbulhando em minha mente. 

Ano passado, por muita insistência de alguns primorosos amigos, inscrevi um dos meus contos, ainda não publicado aqui, em um concurso literário. Confesso que me inscrevi só para os amigos pararem de me perturbar, desculpa gente! Tanto foi que nem me preocupei em acompanhar a apuração e resultado: só enviei o conto. 

Eis que chega domingo, dia 7/2, com um pacote dos correios remetido a mim. Na caixa vi a identificação do local no qual me inscrevi, quem promoveu o concurso foi a UFG - Regional Catalão. Achei que continha um exemplar do livro, pois, se não me falha a memória, todos que participaram receberiam. Abri o pacote descomprometidamente conversando com minha mãe, mas me assustei. Ao abrir a caixa não era um livro que pesava em minha mão, não. Era um tablet. Um tablet? Pensei. Como assim um tablet? Peguei um canudo enrolado, uma espécie de diploma e o desenrolei. Alguns segundos de silêncio e o meu coração acelerou a uma pulsação que eu não conhecia. Eu não conseguia falar, o ar se fazia difícil ao entrar ou sair dos meu pulmões. Meus olhos abertos, sobrancelhas arqueadas. Minha mãe se assustou: o que foi mama? Só consegui esticar o braço para ela, com o papel nas mãos. Eu simplesmente não acreditava no que estava escrito, precisava de uma confirmação, de outro leitor que me dissesse "sim! é isso mesmo!".

Minha mãe leu e veio me abraçar, e pular, e girar, e me dar parabéns. Ríamos tontas, inebriadas, inacreditadas daquelas palavras. O papel dizia: Certificamos que Mayara Gomes de Carvalho participou do 1º Concurso Nacional de Contos & Poemas - Antologia 2015 - Prêmio Flor do Ipê, promovido pela UFG/RC, com o conto, "O bonde 23" categoria adulto, classificado em 1º lugar. Mesmo agora, ao transcrever as palavras do papel meu estômago se põe a esfriar, como se eu estivesse descendo de uma montanha russa. Mesmo agora, quando termino de transcrever as palavras do papel ponho a mão na boca fechada, lábios apertados, respiração ofegante. 

Por vezes paro para ler e só acredito, pois está impresso meu nome. O papel veio acompanhado de uma medalha, nela também está o meu nome, grafado com uma letra arredondada, linda, de quem, como eu, se dedicou a escrita. Ainda não acredito realmente, sinto como se tivesse visto um vulto de fada. Sem conseguir definir realmente se era só minha imaginação ou ali estava ela zanzando pelo mundo. Espero ficar ainda muito tempo com essa condição.  

E, além de compartilhar esse momento, quero agradecer a todos os amigos e desconhecidos que se dedicam a ler meus textos, mesmo quando são ruins. Agradecer a você, que se dispõe a entrar nesse blog e me doar alguns minutos do seu tempo. Agradecer por você, entrar na minha [nossa] história, por tocar os personagens, por partilhar suas agonias, por passear os olhos pelas palavras. Agradecer, pois a cada nova visualização eu sinto vontade de continuar. Não por mim, por nós. Pelas nossas palavras, pelas nossas histórias, pelas nossas dores, pelas nossas alegrias, pelos nossos caminhos, somente por nós.

Eu te desejo um beijo, um abraço, um chamego, um dengo, uma carícia escondida, uma mão trançada em seus cabelos, um sorrisinho bobo, todo o carinho que eu puder te dar e um sussurro de obrigada.