quinta-feira, 12 de junho de 2014

Amor[es]



Hoje acordei lembrando que dia é hoje. O belo e feliz dia dos namorados! O dia em que estão liberadas as flores, champanhe, chocolates e o sexo! Para o dia de hoje todos podem também ser românticos, aliás isso está no protocolo do dia. Não importa o quanto ogro ou ogra você é a vida toda, hoje, exatamente hoje, essencialmente hoje, deve-se fazer biquinho e dizer o quanto se ama, deve-se estrear as fantasias que sempre quis, deve-se desnudar das besteiras do dia a dia e se jogar na verdade do coração. Dia bonito esse, todos felizes [espera-se]. Acordei pensando nesse dia e, ao ver o meu amor ao meu lado dormindo um sono bom, fiquei refletindo no assunto. Afinal de contas o que é ou o que deve ser namorar? Qual seria o ideal daqueles que namoram? O que deteriora, verdadeiramente, os relacionamentos? O despertador tocou, a casa acordou, o dia surgiu, mas o pensamento ficou perdurando na cabeça e durante todo dia estive a pensar nele. Ainda penso na verdade, mesmo agora. Acho [na real] que não existe ideal de nada, mas consigo encontrar o desastre das relações. Ele fica encrostado em uma coisa de cada um, um troço maligno chamado expectativa. Ahh! Tenho até medo disso. Essa menina danada faz com que pensemos de forma cega. Geramos tanta expectativa pelo outro que nos decepcionamos facilmente. Pense bem. Você se entristece pelo o que ele não falou, por ele não ter respondido como esperava. Você se entristece pelo presente que, poxa, pensei que ele ia comprar outra coisa. Convenhamos, é surreal nos colocarmos para baixo [digo nós, seres humanos, homens e mulheres] porque o outro está sendo verdadeiro simplesmente, por ser ele mesmo, por pensar do próprio jeito. Ao que parece não queremos exatamente a pessoa ao nosso lado, queremos o nosso sonho ideal maluco. Não queremos a benfeitoria do outro, nem a vemos ao acontecer, queremos ter o que contar para os amigos, queremos os príncipes e princesas da Disney. Nossa geração de expectativa é criada em uma ilusão de perfeição que simplesmente, definitivamente, indiscutivelmente não existe. Acabamos por perder, em discussões insensatas, o essencial da vida a dois. Nos obrigamos a vida em um labirinto infinito no qual só se chega ao final se, e somente se, os passos dados estiverem na ordem ordenada milimetricamente simétrica da lei clássica. Exigimos préstimos capazes de deixar Hércules e seus 12 trabalhos no chinelo. E, claro, o mais importante, somos ditadores do outro sem querer que ele seja.  Reclamamos das ações externas e quando somos cobrados pensamos: nossa, nem reconheceu o que fiz. Será que não viu que estou fazendo o máximo de mim? E não digo isso somente para os relacionamentos enamorados, encaixo também nesse patamar todas as formas de amor humano. Somos bons, experts em exigência e péssimos em ações. Pensar em minha teoria também faz com que eu reflita lá para dentro de mim o que eu tenho feito aos meus amores. No final de tudo, não se chega a uma conclusão clara. Só percebo que ninguém tem a obrigação de fazer nada por ninguém. Não ache que é cruel, pois realmente não é. Temos oportunidades de fazer, mas nunca teremos obrigação. Engraçado, acho que tudo se resume à como o coração se abre a experiência do outro. E na leve embriaguez que o uísque lhe dava teceu uma manta filosófica a respeito das relações e corações, das almas gêmeas separadas pelo Olimpo, dos apocalipses no Éden, das tormentas ditatoriais, da liberação do sexo, da perda do amor, do encontro entre ela e ele. No dia seguinte, não se recordaria de todo o projeto filosófico descrito, mas a nuança do pensamento a alertaria: lembre-se de seus amores. 

Um comentário:

  1. Muito bom seu texto, Mama! Adorei, de verdade. Certamente, ele vai ficar reverberando em mim e meus pensamentos correm soltos, cheios de perguntas e buscando respostas em todas as direções. Reflexões transbordam!!! E entre tantas perguntas, deixo uma aqui uma tirada do seu próprio texto: e qual é o essencial da vida a dois?!

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