terça-feira, 17 de junho de 2014

Ouve a voz [porque a vida chama]



Acorda moça, acorda! Abre a janela e vem ver o sol que se mostra com todos com seus raios vibrantes, quentes e luminosos te ofertando mais um dia de lutas e vitórias.

Acorda moça, acorda! Vem ver a passarada feliz pelo novo dia, vem ouvir o canto que sai. Vem moça, vem. Eles cantam pra você também, perguntando cadê a moça que nunca mais apareceu? Ela nos dava migalhas no ar e ficávamos de pança cheia no café da manhã.

Acorda moça, acorda! Assim você perde o começo da festa, o sol já se apresentou, a natureza de arrumou, daqui a pouco a criançada começa, o parque na sua frente fica cheio de alegria e você nem vê.

Acorda moça, acorda! Você nunca mais comprou pão quente a balconista te procura quer saber cadê a moça que desapareceu da gente?

Acorda moça, acorda! O vento bate na janela, força a dobradiça, se atreve a entrar sussurrando só pra ver se te encontra no quarto se arrumando.

Acorda moça, acorda! Abre logo essa cortina, escancara essa vidraça, dê o sorriso para a gente que fica na expectativa de te ver aparecer linda na janela.

Acorda moça, acorda! Cadê sua forma exuberante que desfilava estonteante pelo caminho do parque para os olhares da gente?

Acorda moça, acorda! Moça, por que você não nos responde? Cadê seu bom-dia doce? Cadê o cabelo solto? Cadê a moça?

Acorda moça, acorda! Moça você está aí dentro? Nunca vi tanto sumiço é mesmo um desperdício não poder te encontrar.

Acorda moça, acorda! O que será que te aconteceu? A sacada está deserta, parece até que se mudou, a janela sempre aberta faz tempo que se fechou e se mantem coberta pela cortina enegrecia que nunca mais desatou.

Acorda moça, acorda! Desculpa a insistência, não faço por maldade, mas queria mesmo saber por onde a beldade que enchia o peito velho de pura mocidade e balançava os meninos por toda essa cidade.

Acorda moça, acorda! Assim já não dá mais, vai beirando o fim da tarde, com o silêncio trazendo paz, o sol cansado da espera vai deixando a moça para trás.

Moça, você ainda não acordou? Em sua casa nem um movimento, nem um ruído, nem a respiração, só dá para ouvir um lamento bem lá do fundo da casa, no quarto, no canto da parede. Será que a moça sofre descontente?

Moça? Moça? Você está nos ouvindo? Queria te ver sorrindo antes de ir embora.


Mas a moça não ouvia a voz da vida chamando, estava enterrada no travesseiro coberta de lembranças e tristezas. Não pôde ver, as lágrimas lhe embaçavam os olhos. Não podia sentir nada mais além de dor. Estava encarcerada em sua própria agonia, em sua própria solidão. E, por enquanto, era assim que se aprisionará desde que ele arrumou as malas e partiu seu coração.

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